ADORADORES
EM ESPÍRITO E EM
VERDADE
Ao lermos a frase: “Adoradores em
Espírito e em Verdade”, a primeira imagem que nos vem à mente é, exatamente, a
passagem bíblica de João capítulo 04 em que o Amado Mestre está dialogando com
uma mulher samaritana à beira de um poço, refletindo sobre a Verdadeira
Adoração. O ápice desse diálogo é: Adoração em espírito e em verdade é a
qualidade que Deus busca na vida dos adoradores. Outra fala forte é: A hora
vem, e já é. Ou seja, esse é o tempo dos verdadeiros adoradores adorarem ao
Pai.
Com base
nesses dois vértices, pode-se extrair a conclusão que a Igreja contemporânea
ainda está longe da Adoração que atrai os olhos daquele que O Digno de ser
adorado.
Não quero com isso ser visto como um crítico
arrogante e sem fundamentos. Assim sendo, convido-o a viajar comigo nas linhas
deste artigo e descobrir a magnífica estrada que nos leva a Excelência da
Adoração.
Deus busca adoradores que o adore em espírito e em
verdade. Para entendermos essa afirmação de Jesus, precisamos retornar às
raízes da existência humana e encontrarmos a primeira personalidade geracional
bíblica, Adão. Ao criar o primeiro homem, Deus lhe deu uma responsabilidade como
vemos em Gênesis 02:15 – lavrar e guardar o jardim do Éden. Quando analisamos a
palavra adoração, descobrimos que no hebraico uma das formas literárias é
Avodáh (raiz – avadh = servir) que significa trabalho e também adoração a Deus.
Podemos então, dizer que o ato de lavrar e guardar o jardim do Éden era também
uma expressão de adoração na vida de Adão. Logo, a ação de servir, não importa a quem, é
uma atitude de adoração a Deus. Se ao sair do lar em direção ao trabalho se faz
sob murmurações, não há nisso nenhuma atitude de adoração. Adorar não se
restringe a ambientes, circunstâncias, expressões corporais ou canções. Adorar
é o relacionamento do prazer do servir com o zelo do guardar os ensinamentos na
Lei do Senhor.
Adão não serviu com excelência, apesar de servir com
grande dedicação. Ele não teve zelo com sua responsabilidade total. Lavrar está
relacionado com todo o processo do cultivo do fruto, ou seja, desde o preparo
da terra ate a armazenagem da colheita, alem de ter um conhecimento absoluto do
que se está cultivando. E, podemos perceber que Adão tinha um conhecimento
superficial de pelo menos duas árvores, extremamente, importantes em todo o
Jardim: a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Por quê? Quando observamos a passagem que retrata a
queda, vemos que Adão desobedeceu ao Senhor não somente porque comeu da Árvore
do Conhecimento do Bem e do Mal (GN 2:17), mas também porque não comeu da
Árvore da Vida (GN 2:16). Essa é a grande questão: como pode alguém conhecer a
Árvore da Vida e não comer do seu fruto? Essa árvore representa a vida. A vida
é Jesus (JO 14:06). Se alguém comer da Árvore que representa a Vida, jamais
desejará comer da árvore que representa a morte. Essa é a primeira linha de
observância que Adão não cumpriu com excelência sua responsabilidade.
Em
continuidade, o segundo detalhe na ordenança do Senhor foi o de guardar o
Jardim. Uma vez mais Adão permite que os detalhes lhes escapem do
discernimento. Guardar é o mesmo que proteger dos perigos. Eva estava
dialogando com um ser astuto e muito perigoso e com permissão de Adão. Contrariamente
como, por vezes, ouvimos que Eva estava sozinha no diálogo com a serpente, não
temos confirmação disso na Palavra, na verdade o que lemos é que Eva comeu e
deu a Adão seu marido. O texto não diz que ela levou para seu marido, dando,assim
o sentido que Adão estava próximo dela.
A atitude da serpente era, no mínimo, muito estranha e Adão não teve
nenhuma ação repulsiva quanto ao fato e até mesmo com a própria serpente, pois
não foi capaz de discernir o mal que estava a fluir através da mesma. Ele
deveria guardar e proteger o Jardim de qualquer suspeita perigosa, de qualquer
atentado à harmonia no relacionamento com Autor da Criação. A atitude de Adão
revelou falta de zelo para com a responsabilidade que lhe foi confiada.
Adão não
correspondeu à expectativa do Senhor em sua vida. Ele não lavrou e nem guardou
o Jardim devidamente. Logo, adoração em excelência não fez parte do seu estilo
de vida. A consequência da desobediência de Adão foi o sair de forma desonrosa
do Jardim e a consequente perda de relacionamento com o Senhor.
A expressão “em Espírito” tem o sentido de
viver de tal forma que se absorva, todos os dias, a Essência de Deus em nossas
vidas. Isto é lavrar a terra, se alimentar de Cristo. E, a expressão “em
Verdade” nos revela a atitude de viver a Palavra até que a Palavra viva em nós.
Isto é guardar o Jardim, é proteger a imagem de Cristo com nosso exemplo de
vida e com nosso testemunho fiel, diante de um mundo cheio de cobranças.
Tecendo uma
analogia entre Adão e a Igreja contemporânea, vemos muitas semelhanças entre
ambos. Do mesmo modo que Adão não lavrou
o Jardim com o zelo de conhecer, detalhadamente cada árvore ali plantada, temos
presenciado em muitas vidas que se dizem cristãs a mesma falta de zelo em não
discernir o Corpo de Cristo, não fazendo julgamento das próprias atitudes.
Falar do Amor não quer dizer, intrinsecamente, que se vive o Amor. Muitas
pessoas assim o fazem, mas suas ações demonstram a total falta do Amor. Não
sabem viver o perdão, apesar dele o falar. Nas congregações transmitem uma
longanimidade magnífica, mas quanto adentram no trânsito em seus veículos, são
capazes de atrocidades incríveis como xingamento, gesto obsceno, infração, agressão
moral ou até física. Praticam pirataria. Comercializam o ministrar da Palavra
de Deus. Promovem show gospel que exalta mais o status pessoal que o Nome de
Jesus Cristo. A lista é ampla e, infelizmente, cresce mais a cada instante.
Essa atitude, presente em algumas pessoas, não demonstra, de forma alguma, que
a Essência de Deus está sendo por elas absorvida. E, com isso o Jardim não está
sendo lavrado.
Outra observação
está no guardar. Será que estamos guardando o Jardim da forma como deseja o
Senhor ou estamos nos procedendo igualmente a Adão? Devemos lembrar que Adão
negligenciou o guardar permitindo toda ação da serpente. Hoje em dia, muitos
dos que participam da comunhão eclesiástica, também negligenciam o viver na
Verdade. Ensinamentos rotos entram no cenário a fim de alavancar fortunas para
os cofres pessoais, enquanto vidas são privadas da Palavra que transforma o
coração humano. Céu sem festas e templos lotados de vidas em busca da Palavra
Viva sem a encontrar. Muitas canções e nenhum louvor. O ensino perdendo espaço
para o show. Cachês milionários agora não só mais nos mega eventos públicos,
mas também penetrando nos arrabaldes congregacionais. Será este o modelo de
adorador que o Pai procura? Tenho certeza que não.
Por outro
lado, devemos dar glórias a Deus, pois em todo tempo sempre houve um
remanescente daqueles que buscam o perfil do cristão verdadeiro. E, na
atualidade não é diferente. Encontramos em toda parte homens e mulheres, jovens
e crianças vivendo em harmonia com a Palavra de Deus, exalando o bom perfume de
Cristo. Adoradores em Espírito e em Verdade, lavrando e guardando o Jardim de
Deus. Ensinando sobre o Reino dos Céus sendo exemplos vivos dele. Pessoas que
não adoram em santuários, mas que, sim, adoram porque são santuários. Não
apenas levantam as mãos de tempo em tempo, mas estão com suas vidas rendidas em
todo tempo. Pessoas assim fazem a diferença em um mundo de indiferenças, lançam
a Luz em meio a grandes trevas, derramam o bálsamo da cura em feridas
incuráveis, destilam óleo de alegria em multidões de tristezas e jorram
mananciais da Vida nos desertos da morte. Viver em Cristo, por Cristo e para
Cristo. Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. Glória, pois, a
Ele eternamente. Amém (RM 11:36).
Que Ele
encontre em nós adoradores que o adore em Espírito e em Verdade.
Pr. Josemar Marcílio Rodrigues
Comunidade Evangélica de Barra
do Piraí/RJ